Aquela ponte era a única coisa que me separava de ti. Uma ponte de 15 metros que me parecia longa demais para ser atravessada. Permanecia horas todos os dia, sem excepção, ali a olhar para ti, a inspeccionar cada movimento teu. E tudo me encantava. Estavas a construir uma casinha de árvore para o teu irmão mais novo. No entanto, eu sabia que não a estavas a construir só por ser para ele mas sim porque querias um refúgio. Já tinha reparado naquelas seguidas horas em que te olhava, que muitas dessas vezes estavas cabisbaixo, com um olhar profundamente triste. E isso deixava-me preocupada, fazia-me pensar o que traria tristeza a alguém tão encantador e maravilhoso como tu. De cada vez que notava estares daquela forma sentia vontade de atravessar aquela ponte, perder o medo, a timidez e ir. Chegar lá e apresentar-me, fazer-te falares sobre o que te fazia sofrer. Mas, o medo que tinha de me achares intrometida demais nunca me deixou passar aquela ponte que separava os nossos jardins. Num desses dias vinhas atrasado. Normalmente aparecias sempre na mesma hora mas naquele dia vieste muito tarde. Vinhas frustrado, a reclamar contigo próprio em alta voz. Foi a primeira vez que ouvi a tua doce voz. Do que conseguia perceber parecias estar a reclamar da tua mãe, nunca gostara do seu aspecto. Transparecia ser uma mulher rude, cheia de regras e talvez o atraso dele a tenha revoltado. Nesse dia foi a primeira vez que testemunhei que ele sofria de maus tratos por parte da sua mãe. Uma sede de desmascarar aquela mulher nasceu em mim mas antes tinha de falar com ele, tinha de ser capaz. O que vira foi atroz. A mulher batia-lhe com toda a força e ele permaneceu imóvel, nem a tentou impedir. A mulher agarrara-lhe pelos cabelos e arrastara-o para dentro de casa e enquanto isto acontecia vi-o a olhar para mim suplicando-me que o ajudasse, comecei a levantar-me no que vi um movimento na sua mão como se fosse um não para me impedir. Então, fiquei ali a espera que ele torna-se a sair para ir trabalhar na construção da casa do seu irmão mas ele não voltou.
(...)
&Lil
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