24 março, 2011

Gelado




Corria atabalhoada pelo centro da cidade ainda com restos de gelado nos cantos da boca, procurava a minha carteira que deixara perdida algures. Tinha acabado de receber o meu primeiro salário, e para comemorar, fui há melhor geladaria da zona experimentar o que diziam ser o “sensacional dos sensacionais dos gelados”, paguei, e desloquei-me até à saída, quando ouvi um senhor que cantava música country, aproximei-me, e fiquei especada assistindo ao hábil manejar das finas cordas da viola, tendo o homem uma destreza incrível. Apesar de a música não ser das melhores, era o suficiente para eu ficar ali a apreciar o meu gelado. Reparei que anoitecera, coloquei duas moedas dentro da caixinha, e ele com aquele chapéu á cowboy, assentiu com a cabeça, dando um sorriso luminoso mostrando os poucos dentes que lhe restava já corroídos pelo tabaco e o álcool. Desloquei-me até ao parque de estacionamento para ir para casa, mas quando fui tirar as chaves do carro que estavam dentro da minha mala, vi que a minha carteira não estava lá, a minha primeira reacção foi entrar em pânico, a segunda foi respirar, e a terceira, mas não a menos importante, pelo contrário, foi ir procurar a minha carteira que havia comprado nos chineses há bastante tempo, mas bastante chique. Desatei a correr do parque de estacionamento que se situava já nos arredores da cidade, até ao centro, há medida que avançava, as lágrimas atravessavam-me o rosto, sabendo que a minha mãe ficaria desapontada comigo, e eu mais uma vez ficaria sem dinheiro, como a vida é injusta. Já no centro, atravessei a multidão de gente que rodeava o “cowboy”, e direccionei o olhar para o banco onde passara a tarde a comer o gelado sensacional, e onde ouvira um cantor sem jeito para a música, mas com um jeito incrível para manusear as cordas de uma guitarra, que me fez ficar lá presa, e apercebi-me, lá estava ela, a minha carteira assistindo ao movimento das cordas de um músico sem jeito.

&Daniela

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